República do Pensamento

CANÇÃO DO SERTANEJO

minha terra tem a fome
onde reina o urubu
as aves que aqui passeiam
logo são presas em gaiolas

nosso céu é vendido a prestações
nossos campos têm sede de chuva
nossos bosques só existem na memória
nossa vida por amor implora

nossa rosinha morreu com luiz gonzaga
nossas escolas funcionam na base da enxada
nossas canetas só ocupam as mãos do doutor
nossas autoridades riem da nossa dor
minha terra tem a fome
onde reina o urubu

na cidade grande não me espera florbela
mas sim a favela
nas ruas sozinho perambulo
mais ilusões eu perco nesse mundo
minha terra tem latifúndio
e muita gente vive sem-terra

não permita Deus que eu morra
sem que eu veja a miséria virar pó de estrada
sem que desfrute de uma cama macia depois de uma dura jornada
sem que os justos não paguem mais pelos pecadores
sem que ainda escute o canto da asa branca espantar os carcarás

* Marcos Fabrício