República do Pensamento

FELICIANA

Vou-me embora de mãos dadas com Feliciana.
Feliz da vida, serei levado pelas tuas correntezas
até atingir a maré mansa que não conheço.
Quero tirar onda de maluco beleza
e ficar longe da pressa cômica de um funcionário
que tem o orçamento preso ao relógio do ponto.
Navegarei como um peixe serelepe,
curtindo as cascatas
e driblando os pescadores no meio do caminho.

No reino das águas cristalinas,
não há sujeira:
não tem amigo da onça,
nem rainha da cocada preta.
Carona – só se for em barquinho de papel
feito por quem deu asas à imaginação.
Assim, não terei que pegar mais ônibus lotado
e ainda por cima descer em parada errada.

Vou-me embora com Feliciana
e me deixar levar pelos teus cachos d’água.
Deixarei de lado o aluguel do aquário
e passarei a ter casa própria no marzão de meu Deus.
Lá, fisgarei a pérola mais brilhante
e darei de presente à sereia
que me levar para o fundo do coração,
sem ter medo de se afogar.

No fundo, no fundo...
estou atrás de uma eterna intimidade.

* Marcos Fabrício