República do Pensamento

A FOLHA E O LÁPIS
Querida folha,

Viemos da mesma árvore,
mas somos frutos diferentes.
Nossos destinos se cruzaram
para que a obra-prima
não virasse só mais um rascunho.
Poderia te encher com os meus rabiscos,
mas prefiro traçar palavras bonitas
a fim de melhor gozar do teu espaço aberto e acolhedor.
Me agrada muito saber que,
ao ficares grávida dos meus sentidos,
os olhares dos curiosos ficam debruçados sobre ti.
Conto que o segredo (e o encanto) da nossa relação
esteja no fato de que tudo entre nós foi sempre preto no branco.
Nossos contatos são tão marcantes
que não há borracha que os apague
e nem lixeira que os carregue para longe.
Tu guardas as nossas lembranças,
resistindo bravamente ao amarelo do tempo,
enquanto eu driblo as ações do apontador
para curtir o maior tempo possível juntinho ao seu lado.
Pintando o sete, riscamos o sofrimento do mapa,
e, de quebra, deslizo em tua textura,
te fazendo cócegas e dengos.
Estou contigo até a última ponta. Registrado?


Teu
Lápis.

* Marcos Fabrício