República do Pensamento

LIBERDADE PERPÉTUA
a Thiago Júlio Diniz

Escrevo bêbado.
Quando não escrevo, sóbrio sigo.
Falo de mim para me escutar melhor.
Quando emudeço, surdo fico.
Grito querendo ventar.
Sopro querendo latir.
O eco das ondas é a minha canção de ninar favorita.
Pago mico
para dar de graça uma banana aos caretas
que têm medo até de fazer careta.
Não estou afim de pagar o preço pela plenitude.
De tão pleno, Deus não tem desejo algum.
Em terra onde nada falta, o tédio é rei.
E eu sou movido à falta.
Desejo mais me espalhar nos outros
do que me espelhar nos outros.
Perto sem ficar grudado,
longe sem ficar distante,
domo a fera
enquanto vejo domarem a bela.
É mais gostoso discutir a castração dos demônios
do que falar de sexo dos anjos.
Um pouco mais
e brotar-me-iam estrelas.

* Marcos Fabrício