República do Pensamento

PACHOLA E CORAÇÃO

Escuto agora uma moda de viola. Viola caipira de raiz. Lembro-me de meu avô. Um cidadão que viveu e morreu, sem nunca sair de sua fazendinha, no vilarejo de Patos de Abaeté (MG). O único carro que ele teve foi um carro de boi. Desde que nasci todas minhas férias escolares eram passadas na roça. O que nunca deixei de fazer e até aumentei na vida adulta, já que são meu paizinho e minha mãezinha moram na roça hoje. Não em Patos, mas em Abaeté mesmo, bem pertinho da cidade. Digo paizinho e mãezinha, como qualquer outro diria pai e mãe, fui ensinado assim. A sabedoria de minha mãe extrapola minha rudeza e hoje não tenho vergonha de chamá-los pelo carinhoso diminutivo, como tive um dia na adolescência.

Vivemos a era da pressa, da estrepitância e da agressividade. A velocidade das coisas está causando a doença da materialidade nas pessoas. Só somos quando ostentamos algo. Este algo pode ser uma bela aparência. Um carro bonito. Uma roupa da moda. Um celular mega moderno etc. Na era do consumo, da religião das compras, a alma fica retida como garantia ao financiamento. Só é devolvida no dia do pagamento. Se não pagares em dia, xô alma, ela vai ser empenhada no Banco do Desespero, seu espírito fica proibido de visitar e entrar no céu do consumo por causa do Santo Pesquisador de Carmas – SPC.

O nome dos bois que puxavam o carro do meu avô eram: Pachola e Coração. Nomes lindos que povoam meus pensamentos nos momentos mais agressivos e apressados que vivo. Pachola é aquele cara orgulhoso, cheio de si, mulherengo que, apesar de sua elegância ser duvidosa, é calmo e certo de suas atitudes. Coração nem preciso falar, o nome diz tudo. Meu avô se chamava José Lucas de Oliveira e hoje acordei com uma puta saudade dele, do Pachola e do Coração.

* Gustavo Lucas