República do Pensamento

RÉU CONFESSO

Aqui, diante de ti
eu, amante, me confesso
ser assim e assado
Eu me confesso doce e salgado
azedo e amargo
molhado e seco
neste deserto
que produz o mar do nosso suor

Eu me confesso
endiabrado
como foi Deus ao criar este mundo
Eu me confesso
samba zen
hip hópera
cantor de chuveiro profissional

Eu me confesso
asa que Deus deu à cobra
Eu me confesso
galinha vigiada por raposa
Eu me confesso
passarinho
Eu me confesso
estilingue
Eu me confesso
o dono do meu tempo livre
Livre para mandar prender
Livre para mandar soltar
Sou polícia, sou ladrão
Ando do lado de quem se atira

Eu me confesso na fama
Eu me confesso na lama
Eu me confesso de ser chato
antes chato do que achatado
Eu me confesso de ser plano
ou melhor, aeroplano

Eu me confesso reta
reta em busca de curva
curva querendo liberdade
liberdade de me lamber
e assim ao tomar banho,
as gatas miam o meu nome
em pleno cio

Cio da terra
Psiu do céu
Eu me confesso ao querer chamar a atenção
de quem nunca prestou
e se presta a gostar de mim

Eu me confesso ao ser
o goleiro artilheiro
Eu me confesso ao ser
o gari que lida com a sua sujeira
Eu me confesso ao ser
Paulo Coelho metido a Machado de Assis
Eu me confesso ao ser
amante de coxinha de couve-flor com suco de clorofila
Eu me confesso ao ser
droga do teu vício
e vício da tua virtude

* Marcos Fabrício