República do Pensamento

O PREVENIDO NÃO SAI SEM CURATIVO

estou preparando para me machucar com um vidro de mertiolate nas mãos. não saí de casa para me arrepender. é tarde e o tempo passa apertando. calmaria do tempo de paz. revolta. acreditei muito pouco. sou mulher de fatos. minha realidade não atropela cachorro na rua. ainda pedi a ele uma nova chance. que estava disposta a perdoar sua instisfação com minha carne. foi pro espaço. e o passar das horas me trouxe até este lugar. me disseram que tinha que ficar calma. não seria o bastante jogar aquele carro ladeira abaixo.

e cheirar aquele que é meu chão. minha lama e meu perdão. minha angústia reprimida. meu cachorro atropelado agonizando no meio da rua. sou sua. toda minha vida sonhei contigo. e tanto desprezo. mesquinharia. não! apenas sonho com a calmaria. foi quando ela veio que decaí. não sei viver. fui desprezada pela vida. me jogaram neste buraco sujo. esta merda. só porque fiz de você meu escravo. gosto de maltratar homem de calças curtas. tenho certas taras. fantasias de disco riscado.

te espero aqui sentada. tenho dois cortes profundos nas mãos. um foi pela sua cara de satisfação ao me ver morrer. outro pela sua coragem de me cortar com a faca que te dei. minhas vistas vermelharam. este buraco é frio e a terra que cai sobre meu corpo não alivia a dor. um dia saio daqui. te espero à tardinha. pego tudo que você me roubou. trago aqui preste buraco. você vem morar comigo. porque meu amor é infinito. não cabe na outra mão. mertiolate que não arde é inútil.


* Gustavo Lucas