República do Pensamento

MALABARISTA DO SINAL FECHADO

Meia-noite. 27 de novembro de 2008. Semáforo. Avenida Abrãao Karan. Esquina com a Avenida Antônio Carlos. Próximo à UFMG. Belo Horizonte. Eu, motorista. Carro Fiesta Vermelho. À espera do sinal verde. Ele, rezando para que o sinal continuasse vermelho. Assim ganhava mais tempo e quem sabe mais um troco. Tempo é dinheiro – não é o que dizem? Ele arrastava de uma perna. E eu estava com os dois pés ocupados na embreagem e no freio. Só pensava em acelerar. Meta: chegar em casa e rever minha esposa. Ele, sozinho, à cata de atenção. Digo, esmola. Silencio, atenção. Malabarista do sinal fechado. Ele, ele, ele se aproximava de mim. Eu, eu, eu, nas vezes anteriores, tinha dito ao rapaz que estava sem grana. Sem nada no bolso, mas com tudo no coração, ele prontamente me reservava palavras sagradas: “Deus te abençoe e que nada te falte nessa vida”. Ele, azarado, me desejava sempre sorte. Sai lembrança, entra momento. Daquela vez foi diferente. Abaixei o vidro do carro. E disse: “Hoje eu tenho dinheiro. Vem aqui, companheiro”. E ele veio com o sorriso banguela (antes um sorriso banguela do que um sorriso amarelo) e desabafou: “Tem gente que não me dá dinheiro porque tem medo de mim”. O sinal abriu. Eu parti. Ele ficou no sinal. Enquanto dirigia o carro, pensava com os meus botões: “Tenho medo de quem tem medo dele".


* Marcos Fabrício Lopes da Silva