República do Pensamento

LÍNGUA DE CAMÕES

mastigo palavras
mesmo assim
mordo a língua

existem revelações
que vão além
do céu
da minha boca

tropeço no caviar
querendo vatapá

todo o remédio
é um colete
a prova de dor

mais sócrates, por favor

proteínas e agonias
entram sem pedir licença
no meu organismo
tudo é digerido a muito custo

sono leve
lado animal perdido
quero latir e só sei falar

gostaria de saber o que pensa a cadeira
desconfio que ela gostaria
de ser chamada de sentador

não aceito o meu esqueleto
o osso me apavora mais do que o sangue

a coluna vertebral mais parece
um ponto de interrogação
cravado em mim

sou o balão que a criança segura
se sou largado
alcanço os ares
mas me despedaço
do balão restaria apenas a explosão sem registro
quero liberdade com integridade

prefiro a língua de camões
à lingua de canhões.


* Marcos Fabrício