República do Pensamento

CAMA DESARRUMADA


você me chamou para girarmos juntos em torno do sol
e assim perder de vista a inércia de nossas rotações
estávamos fartos de rodar em volta de nós mesmos
à procura de nosso movimento-libertação
solidões intransitivas eram costuradas à mão
até que você não temeu minhas divisas
e se lançou ao meu encontro
enquanto eu pulei minhas cercas de arame farpado
para conhecer o seu amor
formamos ali um só território
onde nosso gozo nos deixou gozados
rindo para as paredes
naquele transe afetivo
nossas vidas deixaram de escalar o muro da vergonha
porque ele perdeu o sentido
quem deve testemunhar a favor do amor somos nós
réus confessos de nossos desejos em bons lençóis
a cama desarrumada é a obra-prima dos amantes


* Marcos Fabrício