República do Pensamento

GULOSO CANIBAL


Não deixe que sua história de vida
Vire conto da carochinha
Nem que a verdade dos teus gestos
Apareça de forma bissexta
Antes, abrace o mundo
Ao invés de ficar fazendo rotações


Viaje sem precisar tirar férias para fazer isso
Deixe o relógio do ponto sair do ponto
Até os ponteiros se cansam
De tanto demarcarem o tempo engravatado
Todo santo remédio é um amigo drogado
Ar puro não tem contra-indicação


Seja um bom ladrão de beijos
Leve versos para o jantar
Fossa não é prisão perpétua
Bossa é bom para rolar o clima
Procure alguém que não saiba coreografia
E treine com ela passos desgovernados
Para fazerem bonito no salão


Peido assumido é sinal de honestidade
A insônia lhe convida para deitar-se numa cama de pregos
Colo de mãe: o melhor dos berços
Em nome do pai, o filho virou espírito
Fronha de travesseiro babada ninguém merece
Na lua de mel, zangão ri à toa com a abelha rainha


Nem musa, nem hipotenusa
Se curvar é deixar de ser reto
Chover no molhado tem tratamento
Nada é tão metafísico quanto descascar banana
Quem petisca é arisco
Em cada vida humana uma barata cresce


Cada rosto é o selo de um estranho mundo
Mania de passado traz complexo de museu
Há quem prefira ter como bicho de estimação uma bola de cristal
A onda tira o mar para dançar
Desafina quem compõe uma canção de costas para o espanto


* Marcos Fabrício