República do Pensamento


Nota sobre o poema Aparessências: qualquer esclarecimento sobre a retirada deste poema, realizada na data de 15/05/2010, entrar em contato pelo e-mail: mflsilva@ig.com.br.

Atenciosamente,
Marcos Fabrício Lopes da Silva.

Carta Aberta de Defesa

Há três dias, tem circulado na internet um e-mail de autoria de Valéria Medeiros no qual a mesma me acusa de ter copiado dela o poema “Aparessências”, publicado na Revista Darandina, dez. 2009. Venho por meio deste texto explicar o mal entendido que se deu nesse caso.


De minha parte, afirmo: não fiz uma apropriação indevida do poema "Aparessências", conforme fui acusado. Busquei com o poema "Aparessências", produzido por mim e postado no blog da República do Pensamento, realizar um diálogo com o texto de Valéria Medeiros, valendo-me do princípio literário conhecido como intertextualidade, que consiste na referência explícita ou implícita de um texto em relação a outro.


Como leitor assíduo de literatura e estudioso dessa área, e como produtor de textos, poeta e jornalista, meus textos são “intertextuais”, pois, conforme postula Kristeva “todo texto é um mosaico de citações, todo texto é uma retomada de outros textos”. Diante de tal afirmação, a noção de originalidade ou ineditismo passa a ser relativizada, considerando como princípio mais adequado para o tratamento da questão a ideia do intertexto.


No meu poema, predominam marcas de uma intertextualidade explícita, pois mantive o título e um conjunto de versos do poema de Medeiros como forma de reconhecer explicitamente a marcação daquela rede de sentidos no poema que fiz. Elegi marcadores textuais de sua autoria para ressaltar a influência daquela fonte no meu fazer poético pautado por uma reescrita ou reelaboração, formando assim, um outro texto. Ao dar ao meu poema o mesmo título do poema de Medeiros, identifiquei, no meu entender, a fonte e sua legitimidade.


Há ainda no meu poema marcas de intertextualidade implícita, pois faço uso de algumas palavras contidas no poema de Medeiros e as desloco, produzindo assim um novo sentido proveniente do jogo entre signos. Ressalto que o sentido proveniente desse jogo de palavras é outro, assim como é outro o sentido do poema que escrevi.


Como o poema de Medeiros está publicado na Darandina, considerei que o texto era de conhecimento público, e no meu entender de grande valor literário, o que me levou a fazer uso dos dois tipos de intertextualidade.


Depois de entrar em contato por e-mail com a autora no dia 13/05, para dar explicações similares às observações que constam nesta carta, e solicitar a ela que encontrássemos uma melhor forma de resolver esse mal entendido, recebi dela uma resposta no dia 15/05.


Diante do desconforto e do desgaste emocional vivido por mim nesse infeliz episódio, vou retirar o poema APARESSÊNCIAS do blog da República do Pensamento, conforme decisão tomada em comum acordo entre as partes. O que era um diálogo literário se transformou numa guerrilha destemperada. Não endosso a postura autoritária e arrogante demonstrada pela autora diante da minha proposta de releitura do seu poema, e reprovo o linchamento moral dirigido à minha pessoa, na Internet.


Para por fim a essa discussão, reafirmo que não copiei indevidamente o poema “Aparessências”, de Valéria Medeiros. Inspirado nele e preservando um conjunto de elementos, formulei um outro poema. Por não homenagear condutas tirânicas, meu poema, em sinal de protesto, sai de cena. Deste fatídico episódio, louvo o que bem merece e deixo o que é ruim de lado, conforme aprendi com o sábio poeta Gilberto Gil, na música Louvação.


Poeta que é poeta aprende todos os dias a tirar leite de pedra.


Marcos Fabrício Lopes da Silva

Poeta, jornalista, doutorando em Literatura Brasileira pela UFMG.