República do Pensamento

O HAITI É EM MIM

Berros tectônicos.
Chão de gelatina.
O subsolo puxa o tapete do céu.
Abalo císmico que balança todas as estruturas.
Não há sexto sentido,
quando o desespero se transforma em barulho ensurdecedor.
Retumbante toca o hino dos bêbados.
Após ouvirmos sem querer cabeludos segredos de liquidificador,
trocamos passos desgovernados
à espera de um milagre
à procura de asas
que nos levem para um porto mais seguro
no qual possam pousar todos os navios sãos e salvos.
Como só temos braços e pernas,
resta rastejar habilidosamente entre o barro como minhoca,
ficar de quatro como um bebê que não sabe andar,
e ter sete vidas como um gato escaldado que pressente a água fria.
Todo o esforço é válido para se buscar um lugar
onde o temor humano não tenha se juntado ao tremor de terra.
O mundo ainda está sobre nossas cabeças.
Suor e poeira.
Reza e maldição.
Casa, templo, agora ruína.
Fiquei sem chão.
Resta-me um buraco.
Só espero que ele tenha molas
para empurrar adiante
o que ainda resta dos meus escombros.

* Marcos Fabrício