República do Pensamento

MORREU PELO BRASIL


Dentes serrados.
Sorriso largo.
Calado com a falta de pão.
Seu José nunca perde a esperança.
Alegre,
mesmo com a fome eclodindo,
vive assistindo
os coronéis se divertindo,
enquanto suas mãos
só têm dedos para a enxada.
O subemprego lhe garante alguns trocados,
já que o restante do dinheiro
vai para o descanso do patrão.
Dona Maria carrega lata d'água na cabeça
pra completar o ordenado.
Com a triste situação,
o filho do casal,
João Ternura
perdeu a candura.
Deu um tiro no ouvido
para não escutar mais o barulho
daquela vida de gado.
Na emboscada armada pela penúria,
escreveu o pobre rapaz
antes de se despedir do mundo:
A vida é tão desigual
que a morte iguala a todos.
A bala que mata João Ternura
também mata John Kennedy.
Lute, pai José! Avance, mãe Maria!
Não deixem que a miséria
derrube mais gigantes pela própria natureza.


* Marcos Fabrício