República do Pensamento

E ESTAMOS CONVERSADOS


Rasgou o verbo. Ficou sem beijo de língua. Mostrou a verba. Ficou com ela todinha. O coração dela é uma bolsa de valores onde ele aplica seus rendimentos. Não tem conversa. Eles partem logo pra prática. Retorno garantido. Juras de amor estão em queda livre. Crise, nem pensar. Quando ele oferta, ela procura. Pecado capital? Nada. Ambos saem no lucro. Prejuízo? Cada um fica com o seu.


Negociando, tudo se resolve: “E estamos conversados”.


A transação do casal é simples: depósito e saque, depósito e saque, depósito e saque... Só não pode ficar no vermelho. Azul para ter sempre crédito. É preciso garantir o investimento futuro. O que passou já foi gasto. O presente dela a ele pertence, já que paga as jóias para ela ficar jóia. “Se reclamar, devolvo a mercadoria”, cobra. Ela promete mundos e fundos. Disse que não vai mudar. Ele molha a mão dela. E ela fica molhadinha.


Negociando, tudo se resolve: “E estamos conversados”.


Se ele ficar “duro”, ela não vai dar mole. Se ela der mole, ele endurece. Comunhão de bens. Está escrito no contrato. Nada é de graça. Tudo está na ponta do lápis para não perder a conta que toma conta do casal. Afinal de contas, eles têm um patrimônio a zelar: sexo à vista (amor descontado em folha).


Negociando, tudo se resolve: “E estamos conversados”.


* Marcos Fabrício