República do Pensamento

NA BATIDA DA LATA


é muita sujeira acumulada.
são sempre os mesmos que limpam.
a gente arranha um país.
mal tocamos uma nação.
sustentamos fortunas alheias,
depositando fome na boca
de quem vive há tempos,
rendendo pano pra manga do bacana
que não é legal de jeito nenhum.
preservamos a ganância
com orgulho bestial.
o caráter tem preço
na bolsa da falta de valores.
talentos são desperdiçados.
bajuladores promovidos
a modelos de liderança.
o conservadorismo faz o velho jogo de entrega.
depois vem dizer que a revolta engoliu a rebeldia.
a brecha é a lei do mais forte,
e a lei serve para os mais fracos
tomarem chá de cadeia.
ergue a tocha da liberdade
a estátua da escravidão.
tem café sempre no bule do barão.
com o pires na mão,
resta a televisão de cachorro
que nos oferece osso duro de roer.
bebemos do crânio um do outro,
pois osmose não alimenta neurônios dançarinos.
cavamos um buraco no coração
porque o viaduto da solidão martela o peito.
numa gaveta de lembranças,
não estão as gravatas,
mas as flores que melhor compreenderam
os nossos espinhos.


- Marcos Fabrício -