República do Pensamento

JEITO DE ESQUINA

o amor tem jeito de esquina
indicado como mel
passeia pelo volume da paixão
distrai os hábitos da solidão
com beijos anoitecendo a saudade
pele tablado de fantasias
sede de línguas famintas
lançadas no avançar de borboletas
trocando voos rasantes
por um pouso alegre a dois

no crepitar da garganta
tua saliva benta
conjuga carícias
presente faz-de-conta
do realizar
chama lilás pelo sorriso
brinco de trilhar
marcas de batom
ouso me surrealizar
no teu pescoço
navego pelejas contente
pela justa causa
de tua elegância
soletrando loucuras
em tom florido
aposentando espinhos insistentes
como o vento faz a curva
para não encontrar
a alma encomendada da lua

uma pegada diferente
dispensa gelos iguais
e copos monótonos
sabe que admiro
teu calcanhar como asas
passarela dos acasos
voo exato pela boca-hortelã
do paquerar

outro lugar parece minhoca
pesca tempo com tarrafa
vem sereia pisando em ovos
bailando gemas ao fritar
frutos do mar rio acima
te convido para jantar
tango acebolado

pernas trançadas
olhos em narizes
bocas ocas não mais
barrocas me atraem
contigo umbigo é pouco
prefiro sentir teu gosto
na febre de ser pessoa

* marcos fabrício