República do Pensamento

NOIVA MECÂNICA

Olhar de farol de milha.
Abra as suas portas para me abrigar.
No porta-malas meto a minha bagagem e vamos passear.
Se te piso, não é para te machucar
e sim para que me leve ao desejado lugar.
Meus pés ficam ocupados em frear, em acelerar,
enquanto suas rodas tocam o chão sem preguiça.
Limpa a minha visão com o seu pára-brisa.
Adoro te dirigir na ilusão de que eu te manipulo.
Costumo não sinalizar para onde vou.
Quando faz a curva, minha noiva mecânica me oferece a seta.
Quanto tem problema, pisca alerta.
Seu motor tem vários cavalos e eu não tenho nenhum para montar.
Mas sinto o vento em meu rosto no conto louco do giros.
Em sua dança do acasalamento, o ronco do motor é o som que me hipnotiza.
Passo a sua marcha, mas sou eu que te bato continência.
Pago o salão de beleza para deixar a sua lataria brilhante.
Sustento o seu vício: é uma alcoólatra de marca maior.
De posto em posto, bebe litros e mais litros. Só assim dá partida.
Com você pego 'maria gasolina'
que me beija
só para sentir
o gosto do seu combustível.

* Marcos Fabrício