A QUEM ME CUSPIU
Sou a eterna pergunta para quem só quer respostas absolutas
Sou a pedra no sapato para quem só quer usar salto alto
Sou a mosca chata que perturba o teu sono de novela
Sou a despesa ambulante que apavora o teu balanço contábil
Sou a ovelha negra para o teu sermão de pastor
Sou a carga frágil para ser sucateada pelas tuas mãos de ferro
Sou o caso de polícia para ocupar a tua cadeia de leis
Sou a lenha a mais na tua fogueira de vaidades
Sou a doença incurável que justifica o teu remédio imediato
Sou o chato de plantão que arredonda a tua bola quadrada
Sou o orelhão-divã para escutar as tuas crises de identidades
Sou o garoto manequim fora da moda fashion de tuas tendências
Sou a pinga de quinta que esquenta o teu corpo frio
Sou o cara criativo só quando te imito
Sou o sujeito lunático que não soube aproveitar a tua luz solar
Sou o livro clássico que apóia o teu pé de mesa
Sou o osso de consolação para a tua fome de cão
Sou o rato esgotado que serve de ração para as tuas sete vidas
Sou a pomba-gira que aciona a tua bomba-relógio
Sou o perdido da noite que não está mais na tua cama
Sou o Chico Buarque no meio do teu AI-5
Sou o boneco de Olinda que anima o teu carnaval
Sou o prego entortado pelas tuas marteladas de sempre
Sou o zero à esquerda mais valioso do que o teu dez em comportamento
Sou a cagada feita pela tua melhor trepada
* Marcos Fabrício
<< Página inicial