República do Pensamento

RELATIVO SÉCULAR

Um século se passou nesse último mês
e ninguém sabe o que só eu vi.
A mente foi no tempo em que o número era uma pedra
e cujo contexto era um pássaro.
Vejo aquele olhar persistindo na memória
Completamente real em sua existência!
Era divino, discreto, lascivo e inquietante.
Quase um monumento invisível
que só o mais sábio dos homens poderia enxergar.


Um século se passou nesse último mês
e ninguém sabe o que só eu senti.
Era um sabor diferente, um licor de Filigrana
que escorria de sua boca.
Tinha um gosto viciante que só a saudade
é capaz de traduzir o efeito desse elixir.
Com toda cautela verificava a dança daqueles lábios
misturada ao perfume do líquido e com infinita certeza
sorvia a combinação perfeita para minha rendição.


Um século se passou nesse último mês
e ninguém sabe o que só eu provei.
Era como se estivesse maculando um anjo.
Olhá-la já me parecia profano, tocá-la então soava pecaminoso.
Ledo engano, pois era tudo suave, harmônico e com tanta paz
que somente aquele ser poderia me proporcionar tamanho torpor.
A sua silhueta ao surgir pôr sol só me fazia admirá-la mais,
desejá-la mais, “angelicalizá-la” mais...
Uma gloria que só os vidros dos meus olhos podem entender, pois, além de mim,
são as únicas testemunhas.


Um século se passou nesse último mês
e ninguém sabe o que eu continuarei vivendo;
um século a cada quinze dias.

* Alexandre Henrique