República do Pensamento


Hoje

Hoje, mais uma vez, enxergo o inevitável
Como se a estória se repetisse a curto prazo
E os meus castiçais não iluminassem mais a minha sala
Por não haver mais fogo no mundo.

Hoje, mais uma vez, prevejo a tempestade
Uma tormenta torturante e de ventos impiedosos
Que uivam aflitos um cântico desenhado nas cinzas do retalho
 Desmanchado, derretido e dilacerado pelo fogo que deixou o mundo.

Hoje, mais uma vez, os olhos estão marejados,
O corpo cansado e o ímpeto dotado de pouca valentia
Por sentir que o amanhã será timbrado com mais uma ida
Sem volta e sem ressentir por aquilo que poderia ser e não foi.

Hoje, mais uma vez, recolho-me no exílio da poesia.
Ela não me abandona, porém aflora quando gostaria que me esquecesse
Ou na exatidão das minhas ideias e contrastes menos bucólicos
Ou na concepção do que quero, do que posso e do real.

Hoje, meu amigo, mais uma vez o coração dói
Pelo fogo que ardeu e não acende mais,
Por viver mais uma estória que desejei
E por sonhar na realidade do que tenho.

Alexandre Henrique Martins