República do Pensamento

MEU CARO MICHAEL

Sujeito grave.
Grávido de música, desafiou a gravidade.
Dançou em todos os sentidos.
Inventou movimentos
que reinventaram o corpo humano
no que há de mais ritmico.
Seus passos desconcertantes
trouxeram a coreografia do cotidiano
para o concerto musical dos embalos
que fizeram a ponte mais concreta
entre os salões e as pistas de dança.
Abalou os palcos do mundo.
Música em forma de gente.
Tragicomicamente,
agrupou melodias afinadas e desafinadas
dentro de uma partitura regida por sua genialidade.
Todo gênio tem um gênio difícil (diria complexo).
Foi capaz de pôr em xeque a paralisia mecânica,
fazendo todos se mexerem,
graças a uma dinâmica quântica
que formou uma legião de bailarinos do absurdo
à sua imagem e semelhança.
O pop não poupa ninguém,
e o ídolo não poupou talento para entrar em cena,
mesmo quando quem estava ali não era ele.
O sucesso fez a sua cama.
Nela sonhou acordado.
O sucesso fez a sua fama.
Nela acordou sonhos.
O sucesso fez a sua lama.
Nela foi barro mas também oco.
Fama mortal, mortífera.
Talento imortal, eterna vida.
Na terra, pop star.
Agora, estrela do céu.
Meu caro astro.
Que não lhe falte astral
no outro lado do palco.

* Marcos Fabrício