República do Pensamento

PEIXE-VIVO


Pesco no imaginário o peixe-vivo do inconsciente.
Teimo no sonho em me concretizar.
Exorcizo ditadores e ressuscito liberdades.
Me odeio quando estou de quatro, calando o membro de onde saí.


Penso e não sei se existo logicamente.
Talvez o chão sustente a minha presença.
Porém, prefiro mil vezes os céus.
Quantos seres em potenciais estou matando
na tentativa de desejar ser eu mesmo
optando por um caminho só?


Fujo da competição e não tenho direito a uma vida normal.
Forças me faltam para assumir de fato essa opção.
Aposto no avesso que me endireita
à medida em que o meu coração me pega de assalto.


"Mãos ao alto! É possível!"
"Mãos ao alto! É possível!"
"Mãos ao alto! É possível!"


Por que a palavra me aprisiona na rede de sentidos?
O meu ser é muito folgado.
Pena que sou demasiadamente sério.
Sou julgado todos os dias por mim mesmo.
Não tenho descanso na prisão perpétua dos meus valores.
Sou um viciado em me doar em causas achadas e perdidas.


Quando fujo da minha essência,
sou uma parede ambulante sustentando um prédio decadente.
Fico inquieto porque não aguento o peso do teto em minha cabeça.
Cabeça tronco liberdade entre as grades.
Dor de dente que espanta até dentista.


* Marcos Fabrício