MANDANDO BALA Minha esposa estava ensinando o nosso filho
a fazer divisão de sílabas.
De repente, uma bala de hortelã
atravessou a minha garganta.
Entre a vida e a morte,
estendia a mão pedindo ajuda.
Minha esposa olhava para mim
com aquela cara de reprovação.
Largava a lição do filho no meio do caminho
para me assistir a morrer pela boca.
A mesma boca que tantas vezes a beijei.
Fui o único homem da vida dela
e isto a chateava muito.
Enquanto me contorcia todo no chão,
ela me dava lição de moral:
"Já falei mil vezes que doce faz mal!
Parece formiga, não pode ver açúcar!
Quer engordar a conta do dentista?!"
Aqueles breves dizeres
marcaram os últimos momentos que passei com ela.
Com a bala de hortelã ocupando a garganta,
não foi possível dizer
que eu só queria beijá-la com o hálito agradável e refrescante,
assim como o casal da propaganda me ensinou.
* Marcos Fabrício