República do Pensamento: novembro 2010

DAMA DA NOITE


debaixo do viaduto
passarela do meu andar a pé
espero a dama da noite
extrair meu espinho
com um cafuné


* Marcos Fabrício


NO MAIS, APENAS DOIS ENCONTROS CASUAIS

só sei teu nome
que me esqueci

só sei teu sexo
que nunca li

só sei teu gesto
que me fez agir

só sei teus olhos
que nunca esqueci



* Gustavo Footloose


GENTE

gente passa por mim todo santo dia
todas cheias de preocupações, vazias de intenções boas

gente roça em meu lado, tom irado
todas plenas de afobações, visadas à distração boa


gente coça o saco, toda hora nobre
todas pobres de possibilidades, de revigoração da pessoa


gente cobra o ponto e o compromisso firmado
gente força o desencontro, todos mesmos desesperados


gente dobra o poste e o rebuliço formado
gente torce pelo contraponto, todos nunca preparados

* Luiz Cláudio Pimentel


pisca analista

é demodé acenar

mas, por vezes, vem uma onda, a me arrastar
olhares que se deliciam em jogar partes de mim em revolta coletiva
olfatares que se esmeram em ligar pontes entre mim e essa moça
qual seja


em movimentar meu pericárdio freneticamente
em alimentar meu tônus muscular específico
sem nenhum aditivo, colorífico ou alterador de mente


em calibrar a intensidade de tua tez morena a me seduzir
e me fazer pequeno diante de tua vivência toda relevância,

Mulher, a regressão ao ventre começa comigo
A criança aqui sou eu, somente eu!

* Luiz Cláudio Pimentel


T inta C or C oração 
dedicada a quem batalha por melhores dias

o caminho não tem volta nem escolta que o valha
não é pra canalhas, e sim pra Travoltas

pros que se viram nos trinta
pras que agem em finta dor emoção

em administração da falta de tempo
em contratempos contínuos
em aventuras únicas, sem volta
na direção de ser melhor, dia após dia

o pergaminho em envolta ordem
sem estribilho que o afine
não é pra quem desanime
e sim pros que se esmeram em volta de suas cintas
pras que transbordam tinta cor coração
em administração peralta: passatempo
em contratempos eternos
em descaminhos, invernos
na direção de ser melhor, lida após lida

* Luiz Cláudio Pimentel


CERTEZA MENTIROSA

prefiro a certeza mentirosa
ao vacilo incerto
prefiro a leoa domada
à formiga passiva

prefiro a braveza portentosa
ao cochilo eterno
prefiro a pessoa amada
à intriga vingativa

prefiro a beleza maravilhosa
ao maquiar sereno
prefiro a coroa enferrujada
à briga nonsense

* Luiz Cláudio Pimentel


AJA

haja engodo
enrolação
justificativas prontas
respostas dinâmicas

haja empapuçados
atravessados
indiferentes, na sua
repetições irritantes

só basta que aja
que faça algo surgir
que submerso, respire
que alçado ao ar, flutue
até o fim dos tempos.

* Luiz Cláudio Pimentel


CENÁRIO

cortinas descerradas
ciclos completados
o palco vazio de luzes
pleno de sonhos

caminhos enfrentados
coices recebidos
o mundo vazio de crises
pleno de asseio

cenário perfeito para um desfecho imprevisível
o fim do ano
o começo do começo
de um novo ano
insano, pelo qual nutrem apreço.

* Luiz Cláudio Pimentel


Sorrir é negar o vício da tristeza


* Marcos Fabrício


A GENTE FAZ AMOR POR TELEFONIA

telefone ponte de ligações a cobrar
fala que eu te escuto de graça
rastros de voz transformam ouvido em orelhão
blá blá blá com conteúdo
ti ti ti de fofoca construtiva
nhém nhém nhém com bilu bilu dá tetéia
papo de grego citação em alemão
frase de efeito bumerangue
resposta refresco pergunta pimenta
nos latidos dividimos o osso
entre os fios miados de sete vidas
te amo
aí deu saudade
na hora do adeus ninguém quer desligar
a gente faz amor por telefonia

* Marcos Fabrício


Não somos normais, nem somos deficientes. Somos eficientes especiais.

* Marcos Fabrício


FEL
FELI
FELIC
FELICI
FELICID
FELICIDA
FELICIDAD
FELICIDADE




* Marcos Fabrício


FELICIDADE
FELICIDAD
FELICIDA
FELICID
FELICI
FELIC
FELI
FEL


* Marcos Fabrício


SEU NOME QUE NEM REFRÃO


durmo e você me acorda por dentro
pelo avesso transpiro lunaticamente
telepatia demais à espera de chamego


acordo e seu rosto sai do sonho
tomando conta do meu dia inteiro
como o tempo que não dorme nunca


amo sofrendo do coração
com a cabeça martelando
seu nome que nem refrão

* Marcos Fabrício



poeta tudo pode
ser todos


* Gustavo Footloose


CENTRO DA GRAVIDADE

quando o centro da gravidade é a gente
haja guarda-chuva para tanto canivete
falta jogo de cintura sobra bambolê
osso na mesa não mata fome de carne

boca seca pode ser greve de beijo
ar de porco-espinho espanta doçura
ficar à flor da pele nem sempre é a melhor forma
de fazer vingar a semente

inércia nervosa não cala frio
cabeça quente é oficina de maus tratos

* Marcos Fabrício


nada de poema
nada de dinheiro
nada de mulher

poeta nada
no nada


* Gustavo Footloose