República do Pensamento: dezembro 2012

0000 olhos 0000


olhos mágicos
miram meu horizonte
o que, a quem, quando
como devo...

minha liberdade é então
observada
delimitada
cerceada

sou assim, não sendo
sou assim, sonso tremendo
sou assim, por vezes gemendo

olhos lógicos
falhos, letárgicos
tentam me delimitar

mas são, também, delimitados
todos, então, observados

não liberados.
não ativados
destrambelhados

olhos enviesados...

* Luiz Cláudio Pimentel



De minha solidão
feitio de uma só mão
no abraço de mil ventos
tocando o coração
a pequenos passos do sol

De minha solidão
feitio de muitas mãos
no abraço de mil sóis
vibrando a razão
a um palmo da lua

De minha solidão
feitio de um sofrimento
no abraço de mil galaxias
amando a Raiz
a nenhum tempo-espaço

de mim


* Gustavo Footloose


PEDIDOS PARA PAPAI NOEL

Quero um papai noel
Que desça já dos céus
E venha brincar comigo na terra

Quero um papai noel
Que saia da era glacial
Para sentir de verdade
O calor do meu universo tropical

Quero um papai noel
Que deixe seu traje de gala
E fique à vontade de sunga
Para nadar comigo no riacho

Quero um papai noel
Que dispense a chaminé
Para plantar comigo
A árvore do amor com fé

Quero um papai noel
Que troque as botas da autoridade
Pelas sandálias da humildade

Quero um papai noel
Que participe da nossa ceia
Sem fazer cerimônia
Sem ficar de saco cheio

Quero um papai noel
Que nos dê de presente
O que realmente importa
A sua presença
Todos os dias do ano

* Marcos Fabrício


Ô, LÁ DE CIMA!

Ô, lá de cima!
Te digo
Com todo o atrevimento
De criança que fala o que pensa
O céu pode ter infinita grandeza
Mas prefiro namorar a delicadeza
Que se encontra na miudeza
De uma gota que se despenca do alto
E nutre o solo dos que estão embaixo
Movimentando a vida
Em sua parcela mínima
Para o máximo
Não se sentir o máximo
E sim um bom pedaço
De um grande caminho


* Marcos Fabrício


O NASCIMENTO DA NOVA ERA

e eu que morri tantas vezes nesta vida
não busquei o sacrifício de suportar

fui no rumo seguindo a direção
sem pensar muito senti o momento

vi as lutas dos homens
lutei com eles por nada

aproveitei o ensejo do fim do mundo
e resolvi morrer novamente

pois todos querem renascer em um lugar melhor
mas poucos estão dispostos a morrer neste mundo

* gustavo footloose


VITÓRIAS

vitórias?

eu levado pelo vento
passo o tempo que for
você não há de vir
eu hei de ficar

no córner
no canto,
entretanto

você, e o tempo que for
a esperar
vitórias?

eu levado pelo momento
passo o tempo que for
você não há de rir
eu hei de chorar

sem canto,
no pranto,
entretanto

você, e o tempo que for
a esperar
glórias?

recuperar
revisitar
memórias

rememorar
reestruturar
história
de um só.
* Luiz Cláudio Pimentel



Tempo bom

Sinto falta de um tempo bom
Aquele em que te trago para perto de mim
Que só de te olhar já me sinto em paz
Como se os minutos fossem horas
E me perdesse na sua presença

Sinto falta de um tempo para respirar
E sorver uma golpada de ar fresco
Recheado com o cheiro da sua fragrância favorita
Conduzindo-me para o éden onde tudo era natural
Virgem e sem maldade até que a maçã chegou

Sinto falta de um tempo frio
Aquele em que se gosta de abraçar
Acolher e não deixar fugir
Que de tão perto protege
E de tão quente que entorpece

Sinto falta de um tempo quente
Em que seus lábios se grudam aos meus
E os meus no seu corpo contando aos beijos o incomensurável
Tentando achar o firmamento que não há
Pois é impossível alcançá-lo no seu “continente infinito”

Sinto falta de um tempo em você
Com meus versos no seu ouvido
Minha mão no seu rosto
Meu coração entoando batidas na sua alma
Minha voz falando “eu te amo”


Alexandre Henrique Martins


SUA NATUREZA

artificial, sua natureza
sorri sem ter vontade
fere com dada maldade
típica de quem não sabe ao certo por quem vive

tendenciosa, quem sabe
agride com velocidade
repele com tal majestade
pois faz parte do teu repertório

meu oratório, não adiantou
provisório, pois outro alguém chegou

saiba irrigar teu deserto.
* Luiz Cláudio Pimentel


A tempestade que ronda


Tenho andado em meio à tempestade.
Sinto toda a sua fúria e castigo sobre o meu corpo!
Sigo de pé, aflito pelo fim e crente na minha redenção.
Meu corpo dói pelas gotas dessa chuva que mais se parecem flechas,
Os olhos se cegam por causa da névoa
E os ouvidos surdos ensurdecem-se pelos ventos que me cortam dilacerantes.
Continuo andando, mas a angustia não passa!
Continuo caminhando e rogando para poder ver o sol novamente!
De repente, ajoelho-me em meio à tormenta sem conseguir mover os cílios.
Suplico para que a tempestade cesse, pois eu não aguento mais.
E eis que ela fala: “Eu paro não no seu momento, mas no momento em que eu tenho que parar!”
Escuto isso como se fosse um trovão a chacoalhar a terra onde eu piso.
Levanto-me novamente, pois ela sabe que eu aguento!
Continuo andando e agora sei a verdade.
Tenho que continuar por mais que o corpo doa!
A mente não para, um furacão de ideias ronda a minha resignação.
Eu dou conta e vou em frente até ser brindado com o calor do sol,
Pois ele sempre apareceu depois da chuva!

Alexandre Henrique Martins



Máquina

Não vejo nada, toda cor é opaca!
Queria enxergar mais, admirar mais,
Correr menos, contemplar mais...
Mas, o que posso fazer?
Tem um anseio que me guia para o que não é natural.
Estou reificado na minha existência!
O sangue foi transformado em combustível,
Os pensamentos em conexões lógicas,
Os sentidos em habilidade
E o coração, esse sim sofre!
Acabo uma jornada, começo outra.
Estrangulo meus sonhos em troca de objetivos...
Queria amar mais, sentir mais o que “tenho”.
Queria ter permissão para tal!
Sem isso estrangulo outra coisa: meu desejo em estar perto!
Desejar é bom, sentir melhor ainda, estar é o paraíso...
Isso sozinho não há, pois tudo se completa em dois!
Um só é pouco, um só é somente só.
Onde está a rima da sinfonia?
Acho que falta outro monossílabo, outro plural...

Alexandre Henrique Martins 




Amanhã

- Mais um dia nasceu!
- Que bom, mais uma oportunidade para buscar.
- Buscar o quê?
- Não sei, só vejo o mundo e seus altruísmos
- E disso creio que há algo meu.
- Se isso for fugas?
- Serei perspicaz!
- Se não te couber?
- Serei fugas!
- Se te testar?
- Serei inteligente!
- Se não for desafiador?
- Serei mutável!
- Se te magoar?
- Serei contemplativo!
- Se não te agradar?
- Serei reflexivo!
- Se te ferir?
- Serei altivo!
- Se não te amar?
- Buscarei mais um amanhã que poderá ser meu!

Alexandre Henrique Martins



Hoje

Hoje, mais uma vez, enxergo o inevitável
Como se a estória se repetisse a curto prazo
E os meus castiçais não iluminassem mais a minha sala
Por não haver mais fogo no mundo.

Hoje, mais uma vez, prevejo a tempestade
Uma tormenta torturante e de ventos impiedosos
Que uivam aflitos um cântico desenhado nas cinzas do retalho
 Desmanchado, derretido e dilacerado pelo fogo que deixou o mundo.

Hoje, mais uma vez, os olhos estão marejados,
O corpo cansado e o ímpeto dotado de pouca valentia
Por sentir que o amanhã será timbrado com mais uma ida
Sem volta e sem ressentir por aquilo que poderia ser e não foi.

Hoje, mais uma vez, recolho-me no exílio da poesia.
Ela não me abandona, porém aflora quando gostaria que me esquecesse
Ou na exatidão das minhas ideias e contrastes menos bucólicos
Ou na concepção do que quero, do que posso e do real.

Hoje, meu amigo, mais uma vez o coração dói
Pelo fogo que ardeu e não acende mais,
Por viver mais uma estória que desejei
E por sonhar na realidade do que tenho.

Alexandre Henrique Martins